

Capítulo 3
— Quer saber? Que se dane. Não vou nem tentar estudar pra recuperar isso.
— Como assim? Você precisa recuperar. Vai simplesmente desistir?
— Não... sim... sei lá, Iza. Tipo... eu me esforço tanto pra tudo dar certo, pra tirar notas boas mesmo não curtindo esse curso. Eu sabia responder tudo nessa prova, mas não fiz isso por puro descuido e falta de atenção. Então, na próxima, vou me sair melhor, já sei o assunto e tal.
Izabelle me olhou de cima a baixo, franzindo o cenho.
— O que é isso? Vai tentar levar o curso com leveza?
— É. Talvez você esteja certa, no final das contas.
— É claro que estou — concordou com um sorriso, mas a pergunta veio logo em seguida: — Estou certa sobre o quê, exatamente?
— Acho que eu levo as coisas a sério demais. Eu vejo pessoas mais descuidadas e relaxadas conquistando as coisas tanto quanto eu e você, e elas não ficam se matando por isso daqui. Talvez a gente devesse aprender com elas.
— Além disso, fazer uma faculdade não é o único caminho que podemos seguir na vida — opinou Izabelle.
Franzi o cenho, observando-a como se fosse louca.
— Como assim?
— Ué, Guga... a gente tá acostumado a ouvir nossos pais e ver que existe uma certa ordem para as coisas. Você nasce, cresce um pouquinho e começa a estudar até se formar no ensino médio. Depois disso, se você não for pra faculdade logo, será considerado um fracassado ou comparado com um primo que entrou na faculdade tal e está fazendo um curso tal. Então, é normal sentir como se fosse uma obrigação vir pra cá e estudar pra se formar. Depois, temos que ter um emprego pra ganhar bem, comprar uma casa, um carro. Daí começa a pressão de criarmos uma família. Precisamos nos casar, ter filhos...
Izabelle tagarelava, contando como a sociedade planejava e determinava o futuro dos jovens.
— Às vezes, a gente só não quer fazer essas coisas.
— Talvez, a gente nem saiba direito o que a gente quer de verdade — comentei, detestando o quanto tudo que ela disse fazia sentido.
Por que eu tinha me deixado levar por aquelas regras que eu nem tinha percebido que existiam? Suspirei, me dando conta de que era difícil resistir. Quer dizer, como aguentar ser comparado com alguém mais bem sucedido o tempo inteiro? Surge o medo de "ficarmos para trás", então, antes que a gente perceba, já entramos nesse sistema, e passamos a vida sem ter feito o que a gente queria realmente. Às vezes, nem nos damos tempo para descobrir o que a gente queria, e isso era extremamente triste.
— Você sabe o que quer fazer? — perguntei. — Ou estar aqui cursando Administração era o que você desejava mesmo?
Izabelle negou com a cabeça.
— Não faço ideia, só espero não me arrepender quando essa fase terminar.
Respirei fundo, notando que nossos colegas já estavam saindo da sala. A aula tinha terminado e eu não havia prestado atenção em quase nada.
— Acho engraçado quando as pessoas dizem "fase" pra se referir a alguma etapa da vida.
— Mas é uma fase, ué — disse Iza. — A vida é como um jogo, só que muito mais difícil. Não dá pra pausar e pensar numa estratégia pra vencer.
— E o que seria essa vitória, também, né?
Ela assentiu, concordando que era difícil dizer. Levantei-me da cadeira.
— Acho que depende de cada pessoa, o que cada um considera importante.
— Você acha que vai... vencer se terminar a faculdade?
— Talvez. Acho que só vou saber quando tiver terminado e sentir... alguma coisa dentro de mim. E você?
— Acho que não — admiti, saindo da sala com Iza em meu encalço.
— Então... não seria melhor sair e se dedicar ao que você realmente gostaria de fazer?
— Sem dúvida, mas não faço ideia do que eu quero fazer. Só sei que... — Suspirei, negando com a cabeça. — Deixa pra lá.
— Não, Guga! Me fala, por favor, a gente tá tendo uma conversa tão massa, não se feche agora.
— Eu gostaria de poder fazer a diferença, essa é a verdade. Quero sentir que a minha existência tem algum significado e pode impactar a vida das pessoas. Talvez isso pareça bobo pra você, mas é assim que eu me sinto.
Izabelle agarrou meu braço, sorrindo.
— Não parece bobo, não. Pelo contrário, achei isso muito legal.
— Mas como conseguir isso, Iza? — inquiri, tentando conter minha frustração.
Ela deu de ombros.
— Você precisa descobrir.
Observei-a, sua animação podia contagiar qualquer um, mas talvez eu fosse imune. A verdade é que ter sonhos é de graça, mas colocá-los em prática custa caro, e nem sempre vale a pena. Como realizar meu sonho e não morrer de fome? Largar tudo pra fazer uma coisa que eu nem sabia exatamente o quê era muito arriscado, e nunca fui uma pessoa corajosa.