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Capítulo 4

     A conversa com Izabelle tinha me dado muita coisa para pensar. Até então, eu acreditava que entrar na faculdade tinha sido uma escolha minha; mas, e se não foi? Quer dizer, eu pensei que queria isso na época. No entanto, a pressão da sociedade, o pensamento coletivo de que esse era o ciclo natural da vida pode ter colocado essa ideia na minha cabeça, e acabei seguindo esse caminho porque não tinha me dado o tempo de descobrir o que eu realmente queria. Um exemplo disso era o curso que eu havia escolhido. Eu não me identificava com Administração e nem sabia disso, pois não conhecia nem a mim mesmo direito.

     Cheguei em casa com a cabeça cheia e a pulsação acelerada. Minha mãe, com a barriga enorme da gestação, esperava por mim assistindo televisão.

     — Oi, Guga, como foi a aula?

     — Tudo ok — respondi, notando um segundo depois que eu fazia aquilo apenas por costume. Quando tinha sido a última vez que eu realmente sentara com ela e falei tudo que estava acontecendo na faculdade? — Na verdade, foi muito chata. Mãe, podemos conversar um pouco?

     Ela pestanejou, certamente não esperava por essa minha resposta.

     — É claro, filho. Sente aqui do meu lado.

     Deixei minha mochila no chão e obedeci. Minha mãe pegou minha mão entre as suas, preocupada. Eu podia entendê-la. Meu estado emocional e psicológico sempre foi motivo de alerta, mas, pela primeira vez, isso não era o que mais me incomodava. Inspirei para tomar coragem e dizer logo de uma vez tudo que eu precisava.

     — Mãe, não estou satisfeito fazendo essa faculdade — confessei com a cabeça baixa, olhando nossas mãos unidas. — E-eu sei que a senhora investiu muito dinheiro na minha educação até hoje e me sinto extremamente culpado de dizer que não gosto do meu curso e não vejo sentido em continuar nele.

     O silêncio dominou a sala. Eu temia levantar meu rosto e encontrar o dela, mas foi que ela me forçou a fazer.

     — Que você não gosta desse curso não é novidade pra mim. Você é meu filho, te conheço mais do que qualquer outra pessoa nesse mundo, então já tinha percebido isso há muito tempo.

     — Me perdoe, por favor. Eu sinto muito de verdade.

     — Filho... — Ela suspirou. — Tá tudo bem. A vida passa rápido, mais rápido do que você pode imaginar. Num piscar de olhos, você estará com 40 anos como eu. Quando esse dia chegar, quero que olhe pra trás e veja que sua vida valeu a pena ter sido vivida, que não foi só um amontoado de sonhos soterrados. Se você não tá feliz, saia dessa faculdade.

     Limpei meus olhos úmidos com a manga do casaco e olhei pra minha mãe.

     — Valeu, mãe — disse com a voz embargada.

     — Não precisa agradecer. Tudo o que eu mais quero no mundo é ver você feliz — garantiu, me abraçando apertado. Quando nos afastamos, ela perguntou: — Já tem alguma ideia do que você gostaria de fazer?

     Neguei com a cabeça. Isso era o que mais me deixava ansioso. Ok, eu sairia da faculdade, mas para fazer o quê? E como eu garantiria meu sustento e meu futuro?

     — Só sei que eu quero... fazer a diferença, sabe? Quero deixar minha marca no mundo de alguma maneira. Não gostaria que ninguém passasse pelo que eu passei... abandonar duas faculdades não é pouca coisa.

     — Hum... entendo.

     — Talvez esteja justamente aí a sua oportunidade — opinou, recostando-se no sofá e alisando a barriga.

     — Como assim?

     — Não quer que jovens como você sofram depois de entrar numa faculdade que, na verdade, depois descobriram que não se identificavam, certo? — Assenti, prestando atenção e curioso para saber aonde ela queria chegar. — Então, você pode criar uma empresa ou, como se chama aquilo? Hum... Startup? Criar um negócio assim para ajudar os jovens a descobrirem suas verdadeiras vocações, o que realmente vão gostar de fazer no futuro e serem pessoas mais realizadas na vida profissional. Filho, sendo sincera, se esse serviço existisse na minha época, eu teria usado.

     — Não é uma má ideia. Posso colocar psicólogos, terapeutas, fazer parcerias com faculdades para as pessoas visitarem e poderem ver como são as aulas dos cursos do interesse delas...

     — Sim, será muito útil. Também pode oferecer planejamento estratégico pra carreira e... — Minha mãe se interrompeu. — Desculpe, estou me empolgando. 

     Ela riu um pouco e acompanhei. Talvez, desse certo. Eu trabalharia para dar certo. Dizem que quando fazemos algo com amor e dedicação, o negócio flui. Ainda que isso seja apenas uma expressão comum, estava decidido a adotar aquela ideia pra minha vida.

     A coragem eu conseguiria aos poucos, ela não surge do nada, mas o primeiro passo eu já tinha dado. E é assim que se constrói alguma coisa na vida, passo após passo.

     Sorri, apertando a mão da minha mãe a agradecendo a ela. Pela manhã, contaria a Izabelle a novidade. Pela primeira vez em muito tempo, me senti... leve.

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Fim

Nota da autora:

Segundo a OPAS, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, e essa é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. 

Uma das formas de prevenção é a identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo.

Escrevi essa história inspirada pela música Girassol. Foi a forma que encontrei de tentar ajudar todos que passam por situações difíceis e que precisam de palavras de conforto.

Lembre-se: sempre há uma solução para o problema, seja ele qual for, por mais desafiador que pareça.

Espero, sinceramente, que você tenha gostado da leitura.

Se apenas uma pessoa for tocada por essa história, já terá valido a pena.

 

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O meu propósito é escrever histórias transformadoras! ♡

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Ficarei muito grata. A obra Girassol está e sempre estará gratuita para leitura

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Você pode dizer se gostou da história, o que mais gostou, deixar uma palavra de conforto para alguém que está precisando ou, até mesmo, compartilhar alguma coisa que esteja te machucando.

Seja gentil com todos, que o mundo retornará a gentileza para a sua vida!

***

10 de setembro - Dia Mundial de Prevenção do Suicídio

Se você precisa de ajuda, entre em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida: Acesse ou ligue 188

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© 2020 por Paloma Brito | Todos os direitos reservados

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