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Capítulo 3

     — Não, obrigado. Valeu mesmo, mas não quero.

     — Por que não? Que besteira.

     Respirei fundo, sorrindo minimamente. Se aquelas pessoas tivessem a mínima noção do que as drogas podiam fazer, não diriam isso. Eu sabia, no entanto. Tinha exemplo na minha família. A pessoa, sangue do meu sangue, que deveria zelar e cuidar de mim tinha ficado viciada em cocaína, heroína e qualquer outra coisa que a deixasse momentaneamente eufórica. Eu temia seguir os passos da minha mãe biológica, e não daria nenhuma chance disso acontecer. Maconha podia não viciar, como todo mundo dizia, mas me traria sensações que, talvez, sem ela, eu nunca conheceria, como "flutuar", segundo Sara. Essa sensação podia me fazer desejar outras, o que não seria difícil, já que eu apreciava qualquer coisa que me tirasse da minha realidade.

     — Minha mãe era viciada em drogas — revelei, surpreendendo a mim mesmo por não ficar acanhado com o assunto. —  Até hoje ela não se recuperou totalmente e está em uma clínica de reabilitação. Pode me deixar com a minha caretice, eu prefiro isso a ter a mesma vida que ela.

     — Cara, eu não fazia ideia, foi mal — disse Sara.

     Dei de ombros. Não era obrigação de ninguém saber pelo que as outras pessoas estavam passando, mas ter empatia seria sempre bom.

     — Enfim, eu realmente preciso ir agora, talvez ainda consiga pegar um pouquinho da aula.

     — Beleza, vê se aparece — disse Camila, piscando. Desviei o olhar, pois aquilo parecia um flerte, e ela estava com alguém que eu suspeitava que era seu namorado. Pigarreei, concordando, querendo sair dali o mais rápido possível, pois a fumaça da maconha vinha na minha direção sempre que Sara expirava.

***

     — Muito legal, Gustavo, parabéns. Você chegou atrasado de novo. É assim que você quer terminar logo essa faculdade, é?

     — Não foi culpa minha, uns caras vieram encher meu saco e — tentei explicar pra Iza, mas ela não queria escutar.

     — Eu vi que você tava com um grupinho de amigos, fale a verdade.

     — Você tava me espionando?

     — Espionar é uma palavra forte demais, estava ve-ri-fi-can-do se estava tudo bem com você — pontuou. Ela era orgulhosa demais para admitir que estava fuçando minha vida?

     — Enfim, não importa. Só fiquei com aquele grupo por alguns minutos, nada aconteceu, tá tudo bem. Vamos parar de conversar e assistir a aula.

     — Ah, então agora você quer assistir a aula? — sussurrou de mau-humor na minha direção.

     Respirei fundo, virando-me pra ela.

     — Que foi? Qual é o seu problema? Não tô entendendo porquê tá enchendo meu saco sobre isso, Izabelle.

     — Nada. Não foi nada — disse, cruzando os braços e voltando a atenção para o professor.

     Levantei as sobrancelhas em espanto e confusão, mas não disse mais nada. Eu queria que ela ficasse quieta, e finalmente tinha conseguido isso, mas não imaginava que ela ficaria chateada, ainda mais por não ter motivo algum.

     A aula passou num piscar de olhos. Prestei atenção no assunto o máximo que consegui, e Izabelle permaneceu com a cara emburrada durante todo o tempo. Tentei fazê-la conversar comigo, mas era um esforço inútil.

     — Que perda de tempo essa aula, ein — reclamei assim que saímos da sala, tentando começar uma conversa.

     — Sim, foi um tédio — concordou, para minha surpresa. Ela geralmente me dava uma visão oposta à minha, tentando me fazer enxergar que havia coisas boas no nosso curso.

     — Você tá bem? — perguntei, cutucando ela com o cotovelo.

     Iza suspirou, parando de caminhar embaixo de uma árvore. Aquela não era a reação que eu esperava.

     — Não. Não tô bem, e não tenho com quem conversar.

     — É claro que você tem, eu tô aqui.

     — Não, Guga, você não tá! — disse, já irritada. — Você diz que está, diz que eu posso contar com você, mas você tá sempre mal, tá sempre cheio de problemas, e eu não consigo me abrir e falar de alguma coisa que eu não esteja satisfeita na minha vida porque você sempre ganha a disputa de "quem está mais mal". 

     Pisquei, surpreso. Não fazia ideia de que ela se sentia dessa maneira. Na minha cabeça, Iza apenas não tinha nenhum problema para se queixar e pronto.

     — Me... desculpe, não sabia que pensava assim. Nunca foi minha intenção impedir que você dissesse seus problemas.

     — Enfim... deixa pra lá — disse, quase recomeçando a caminhar.

     — Não, espera. Agora você precisa me contar o que tá te perturbando — pedi, mas ela apenas estreitou os braços ainda mais. — Por favor, Iza.

     — Você tem certeza de que quer saber? Não queira acrescentar mais problemas aos que você já tem, não quero te prejudicar.

     Neguei com a cabeça, dispensando sua preocupação. Não acreditava que ela me prejudicaria, mas tinha de admitir que não queria mais paranoias para me perturbar.

O que Gustavo deve fazer?

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© 2020 por Paloma Brito | Todos os direitos reservados

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