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Capítulo 4

      Os dois homens que me seguravam não estavam aliviando nem um pouco os meus braços, mas eu tinha a força do desespero, uma coisa potente e que é acionada quando o instinto de sobrevivência fala mais alto que tudo. Sentindo a adrenalina correr pelo meu corpo, dei um berro quando escolhi um dos caras e me lancei sobre ele, conseguindo acertar seu maxilar.

     — Corre, Iza! — gritei bem alto, e acho que ela conseguiu se livrar de Diogo e sair correndo.

     Levei um chute nas costelas, mas mal senti a dor. Não tinha tempo para sentir nada naquele momento. Ouvi Iza gritando "fogo, fogo, fogo" incansavelmente enquanto descia as escadas. As casas ao redor começaram a se iluminar, as pessoas curiosas estavam acordando para ver o que estava acontecendo. Não conseguia me levantar, precisava continuar combatendo meu oponente caído, que resistia, ou seria pior. O problema era que tinha mais dois às minhas costas, e o inevitável aconteceu.

     Alguém me puxou por trás e me levantou, soltando-me com um empurrão em seguida. Levantei as mãos pra cima por puro reflexo.

     — Você é um filho da puta do caralho. Aqui tá sua passagem só de ida pra conhecer o inferno!

     Não tive tempo de fazer nada. Diogo sacou uma arma da cintura e atirou contra mim.

     O som do tiro foi alto, silenciou minha mente, mas pude ouvir as pessoas gritando de suas casas. Depois de alguns segundos...

     Silêncio.

     O medo faz isso com as pessoas, nos silencia. Ninguém sairia da "segurança" de sua casa para saber o que tinha acontecido.

     Apoiei-me na parede antes que caísse e coloquei uma mão sobre o lugar do tiro. Foi um pouco abaixo da clavícula, mas era difícil definir no escuro e com minha cabeça tão confusa. Observei os três homens se afastarem correndo enquanto minha visão se tornava cada vez mais turva, até restar apenas o escuro.

***

     Algo de misterioso devia acontecer na minha vida. Eu tinha uma missão para cumprir ou qualquer besteira nesse sentido, pois, não adiantava o que acontecesse, aparentemente, eu não morria.

     Fiquei algum tempo no hospital em estado grave, mas sobrevivi. Nesse meio tempo, minha tia teve seu filho, e ele era a coisa mais linda que Deus já tinha colocado nesse mundo. Eu estava simplesmente encantado pela criança. O parto tinha sido complicado, afinal, minha tia não era mais nenhuma jovenzinha, mas, no final das contas, os dois ficaram bem.

     Izabelle, a dedo-duro mais gente boa que já conheci, contou para tia Suzana o que aconteceu na noite em que levei o tiro. Ela me internou numa clínica de reabilitação por precaução e fiquei "limpo". Iza, por sua vez, havia ficado traumatizada com o que tinha acontecido. Ela nunca passara por uma situação semelhante àquilo tudo. Fazíamos terapia juntos, e me senti verdadeiramente culpado por ter fodido a cabeça dela. Não queria que ela terminasse como eu.

     — Cadê aqueles arquivos com os nomes das pessoas que se cadastraram no Projeto?

     — Tá na outra sala, vou buscar pra você — eu disse a Iza. Agora trabalhávamos na mesma comunidade em que eu levei o tiro. Minha história saiu em todos os jornais da cidade, Diogo e seus amigos foram presos. Nem preciso dizer que Sara e eu terminamos sem nem precisar trocar mais de duas palavras né?

     Foi triste, seco e por mensagem de texto. Ela mandou um "Acabou." quando eu ainda estava no hospital. Respondi um "Ok.", e prometi para mim mesmo que nunca mais teria um relacionamento tão sem sentido quanto esse novamente.

     Peguei os documentos que Izabele tinha me pedido e voltei para perto da mesa dela.

     — Tá aqui, Iza.

     — Valeu. Nosso projeto cresceu rápido, né?

     Assenti em concordância. O Projeto Acolher oferecia programas, atividades e um lugar seguro para pessoas que eram dependentes químicos e que estavam passando por momentos difíceis, como ansiedade e depressão. O lugar era o meu xodó, e eu me sentia verdadeiramente bem ajudando as pessoas. Eu não estava "curado" de tudo, nem sei se chegaria o dia em que eu estaria, mas estava lutando. Estava lutando com todas as minhas forças para não sucumbir.

     Eu finalmente tinha entendido que a mudança tinha de começar comigo. Eu precisava tomar as rédeas da situação e querer melhorar, querer enfrentar. Do contrário, toda ajuda que eu recebesse seria em vão.

     — Olha só... — disse minha amiga.

     — O quê?

     Ela não respondeu imediatamente. Levantou-se da cadeira e me segurou pelos ombros.

     — Você tá sorrindo.

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Fim

Nota da autora:

Segundo a OPAS, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, e essa é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. 

Uma das formas de prevenção é a identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo.

Escrevi essa história inspirada pela música Girassol. Foi a forma que encontrei de tentar ajudar todos que passam por situações difíceis e que precisam de palavras de conforto.

Lembre-se: sempre há uma solução para o problema, seja ele qual for, por mais desafiador que pareça.

Espero, sinceramente, que você tenha gostado da leitura.

Se apenas uma pessoa for tocada por essa história, já terá valido a pena.

 

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O meu propósito é escrever histórias transformadoras! ♡

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Ficarei muito grata. A obra Girassol está e sempre estará gratuita para leitura

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Você pode dizer se gostou da história, o que mais gostou, deixar uma palavra de conforto para alguém que está precisando ou, até mesmo, compartilhar alguma coisa que esteja te machucando.

Seja gentil com todos, que o mundo retornará a gentileza para a sua vida!

***

10 de setembro - Dia Mundial de Prevenção do Suicídio

Se você precisa de ajuda, entre em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida: Acesse ou ligue 188

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© 2020 por Paloma Brito | Todos os direitos reservados

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